Telefone celular, seu cérebro e o noticiário seletivo
Acho que quase todo mundo viu ou ouvir falar, na semana passada, deste despacho da agência inglesa Reuters sobre um estudo que indica que o uso de telefones celulares aumenta o fluxo de sangue no cérebro, especificamente do lado da cabeça onde o aparelho está encostado. Embora o texto tenha tido o cuidado de informar que o "impacto na saúde não está claro", está claro que a frase deixa, no ar, a noção de que algum impacto na saúde há de haver.
Curiosamente, no entanto, não vi em nenhum dos grandes "outlets" nacionais de mídia a repercussão deste press-release da Universidade de Manchester, dando conta de um levantamento estatístico que procurou alguma correlação entre a disseminação do uso do celular na Inglaterra e o número de casos de câncer de cérebro. Os cientistas usaram dados de 1998 a 2007.
O que eles encontraram? Nichts. Niente. Nichego. Rien. Nishto. Nothing. Nada.
Como notam os autores do trabalho de Manchester (publicado na revista Bioelectromagnetics), não existe nenhum mecanismo conhecido pelo qual a frequência eletromagnética usada pelos celulares possa produzir o tipo de dano biológico necessário para criar um câncer.
Radiações capazes de danificar o material genético no interior das células, como o ultravioleta ou os raios X, são muito mais potentes. Os fótons emitidos pela lâmpada da sua sala são mais energéticos que os disparados pela antena do telefone.
E quanto aos resultados divulgados pela Reuters? O físico Robert Park sugere que o aumento no fluxo de sangue possa ser uma resposta ao calor gerado pela radiação do celular (ficar com a orelha encostada numa lâmpada acesa vai acabar aquecendo seu cérebro, também -- e queimar a orelha, por falar nisso).
Resumindo, o efeito do celular no cérebro pode ser idêntico ao de se usar chapéu. Chapéu causa câncer?
Por que a grande mídia deu a história da atividade cerebral e ignorou o resultado negativo do estudo estatístico? Provavelmente porque uma das histórias saiu na Reuters e a outra, não (uma busca no site da Reuters revela a matéria alarmista, mas não traz nada a respeito da tranquilizadora).
E por que a Reuters deu uma história, e não a outra? Bem, talvez porque o experimento sobre atividade cerebral tenha sido publicado numa revista científica de alto perfil respeitabilidade, o Jama. Mas também talvez -- apenas talvez -- porque medo e insegurança vendem mais jornal que o contrário.
Curiosamente, no entanto, não vi em nenhum dos grandes "outlets" nacionais de mídia a repercussão deste press-release da Universidade de Manchester, dando conta de um levantamento estatístico que procurou alguma correlação entre a disseminação do uso do celular na Inglaterra e o número de casos de câncer de cérebro. Os cientistas usaram dados de 1998 a 2007.
O que eles encontraram? Nichts. Niente. Nichego. Rien. Nishto. Nothing. Nada.
(Em alguns pontos da web brasileira mais -- com o perdão do trocadilho -- antenados que a grande mídia, a notícia foi dada com o título "Celulares podem não causar câncer". A implicação, involuntária que seja, é que era de se esperar que causassem!)
Como notam os autores do trabalho de Manchester (publicado na revista Bioelectromagnetics), não existe nenhum mecanismo conhecido pelo qual a frequência eletromagnética usada pelos celulares possa produzir o tipo de dano biológico necessário para criar um câncer.
Radiações capazes de danificar o material genético no interior das células, como o ultravioleta ou os raios X, são muito mais potentes. Os fótons emitidos pela lâmpada da sua sala são mais energéticos que os disparados pela antena do telefone.
E quanto aos resultados divulgados pela Reuters? O físico Robert Park sugere que o aumento no fluxo de sangue possa ser uma resposta ao calor gerado pela radiação do celular (ficar com a orelha encostada numa lâmpada acesa vai acabar aquecendo seu cérebro, também -- e queimar a orelha, por falar nisso).
Resumindo, o efeito do celular no cérebro pode ser idêntico ao de se usar chapéu. Chapéu causa câncer?
Por que a grande mídia deu a história da atividade cerebral e ignorou o resultado negativo do estudo estatístico? Provavelmente porque uma das histórias saiu na Reuters e a outra, não (uma busca no site da Reuters revela a matéria alarmista, mas não traz nada a respeito da tranquilizadora).
E por que a Reuters deu uma história, e não a outra? Bem, talvez porque o experimento sobre atividade cerebral tenha sido publicado numa revista científica de alto perfil respeitabilidade, o Jama. Mas também talvez -- apenas talvez -- porque medo e insegurança vendem mais jornal que o contrário.
Eu confesso que me lembro de quando a relação entre cigarros e câncer no pulmão "não está exatamente clara"...
ResponderExcluir- Felipe
Mesmo, Felipe? Quantos anos você tem? A primeira correlação estatística entre fumo e câncer -- o mesmo tipo de efeito que os pesquisadores de Manchester não conseguiram encontrar, no caso dos celulares -- data da década de 30. O ministério da saúde dos EUA deu a correlação tabaco/câncer como provada em 1964.
ResponderExcluirque bom saber disso, já vinha se tornando um mito essa história de celular-câncer.
ResponderExcluirum abraço,
André