Ilha de Sark, o último bastião da civilização

Minha mulher e eu volta e meia debatemos os prós (vida cultural intensa, metrô, bares e restaurantes) e contras (preço, custo, preço) de uma mudança para São Paulo, mas agora outra parte do mundo acaba de superar a capital paulista como meu sonho geográfico de consumo: a Ilha de Sark, no Canal da Mancha, entre França e Inglaterra (mais perto da França, é verdade).



Visualizar Sark Island em um mapa maior


Por quê? Bem, ela foi declarada Ilha de Céu Escuro pela Dark Sky Association, o que basicamente significa que lá é possível olhar para o céu à noite e ver estrelas -- em vez, por exemplo, do reflexo dos holofotes que iluminam mais uma das infinitas imitações baratas de obra de Oscar Niemeyer que infestam os espaços públicos brasileiros.

"O céu noturno é muito escuro, com a Via-Láctea indo de horizonte a horizonte, meteoros passando e incontáveis estrelas", diz o entusiástico press-release do website de turismo da ilha.


Além de não ter nenhuma iluminação pública à noite, a ilha -- de aprazíveis 5,5 km² e 600 habitantes -- não possui estradas. Na verdade, o único tipo de automóvel permitido lá são tratores, usados para puxar carga do porto.

É isso mesmo: é proibido usar carro particular por lá. O que seria mais civilizado que isso? O site da ilha recomenda que visitantes façam reservas antecipadas de charretes e bicicletas. Abaixo, uma imagem aérea de Sark, tirada da Wikipedia (se a ideia de uma unidade política que cabe inteira numa foto lhe surpreende, você não está sozinho):


A nota do jornal britânico The Guardian, linkada no segundo parágrafo desta postagem, tem uma bela foto do céu de Sark à noite. Infelizmente, trata-se de uma imagem da Associated Press, e por isso não posso reproduzi-la aqui. Mas o material do Guardian  merece ser lido.

Em 2009, durante a assembleia da União Astronômica Internacional realizada no Brasil, foi aprovada uma resolução "pelo direito à luz das estrelas".

A poluição luminosa -- a luz desperdiçada à noite, seja por iluminação pública mal-planejada, seja pela megalomania dos holofotes usados para destacar monumentos, prédios públicos, festas de gente brega, etc. -- não só destrói a apreciação do céu noturno, como ainda causa dano ecológico, confundindo o relógio biológico de insetos e outros animais.

Comentários

  1. O mais trágico da poluição luminosa é que os desinformados não fazem a menor ideia do que se trata e muito menos da importância do tema. Alguns mais irados ainda nos tacham de ingênuos, achando que isso implicaria em maior criminalidade...

    Será que Sark está contratando professores de Física? Hmm!

    -Daniel Bezerra

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  2. Já sei onde vou passar minhas próximas férias! Aqui em Ribeirão Preto eu tenho que me afastar da cidade por meia-hora para sequer ver a Via Láctea, e esta é uma cidade agrícola!

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