Lá vamos nós: a fusão a frio ataca novamente

Dois cientistas italianos, Andrea Rossi e Sergio Focardi,realizaram uma coletiva de imprensa para anunciar o sucesso de um dispositivo de fusão nuclear que opera à temperatura ambiente e que transforma átomos de hidrogênio e de níquel em cobre, liberando no processo 30 vezes mais energia do que é consumida. No entanto, o artigo técnico que descreve o feito foi rejeitado por todas as revistas científicas a que foi submetido, o resultado viola as leis da Fìsica (o próprio artigo, disponível online, admite isso) e nenhuma descrição detalhada no sistema foi apresentada até agora. Uma primeira tentativa de obter uma patente internacional para o aparato não foi muito bem-sucedida.

Se o parágrafo acima não deixou você com a pulga atrás da orelha, continue lendo.

Um vídeo sobre a apresentação do sistema, publicado no site Physorg.com, mostra basicamente uma caixa preta (na verdade, azul) coberta de aparelhos, cientistas falando e uma tela de computador onde aparecem números e uma curva -- algo que o espectador deve, por pura fé, aceitar que descreve os eventos entro da  caixa (a imagem da caixa é a ilustração inicial desta postagem.)

Um vídeo de mais de 40 minutos, disponível no YouTube, contém o trecho exibido pelo Physorg, emoldurado por uma série de discursos e explicações (em italiano, para quem quiser tenta seguir -- não é muito difícil para quem fala português, já que as declarações são bastante pausadas) sobre o significado das medições e as salvaguardas adotadas.

A coisa toda me fez lembrar de duas situações. A primeira, e mais óbvia, o fiasco de Stanley Pons and Martin Fleishmann, que em 23 de março de 1989 haviam anunciado à mídia em geral a descoberta da fusão a frio -- antes que seus dados tivessem sido revisados por outros cientistas ou publicados numa revista especializada.

Esse tipo de abordagem -- poderíamos resumi-la como falar com o Fantástico antes de com a Nature -- era considerada, antes do caso Fleishmann-Pons, mera falta de etiqueta. Hoje em dia, diante de um mundo mais experiente (alguns diriam, mais cínico) é tida um sinal claro de hype fabricado, quando não de fraude pura e simples.

(Convém lembrar que o resultado de Fleishmann e Pons já estava desacreditado antes mesmo do fim do ano.)

A segunda situação é o caso Uri Geller. Quem não viveu os anos 70 provavelmente não se lembra do super-paranormal israelense, que virou até marchinha de carnaval aqui no Brasil ("Uri, Uri, Uri Geller, vê se desentorta esta mulher...") com seu poder de dobrar metais usando apenas a força de vontade.

Muitos parapsicólogos levaram Geller extremamente a sério, e dois deles, Russel Targ e Harlod Puthoff, chegaram a publicar um artigo na revista Nature a respeito. Mágicos profissionais ficaram estupefatos: aí estava um sujeito fazendo truques comuns e sendo levado a sério por cientistas simplesmente porque dizia que não eram truques, e sim feitos paranormais! (Quem quiser saber mais sobre Uri não pode deixar de ler o fantástico The Truth About Uri Geller, de James Randi.)

O ponto aqui é a mágica: um truque de mágica consiste, muitas vezes, em dizer -- ou dar a entender -- que se está fazendo uma coisa enquanto, na verdade, se faz outra. A caixa azul lacrada e os monitores de computador -- que podem ou não estar descrevendo o que acontece nela -- são ideais para esse tipo de ofuscação.

Claro, é possível que Rossi e Focardi tenham realmente descoberto um novo tipo de fenômeno quântico capaz de produzir energia barata e limpa para a humanidade, e que só se recusem a revelar detalhes do aparelho por medo de pirataria comercial. Se assim for, ambos certamente serão  lembrados pelos próximos séculos e milênios ao lado de outros grandes benfeitores da humanidade, como Alexander Fleming, o descobridor da penicilina.

Mas, até lá, vamos matar o tempo com o desaparecimento da Estátua da Liberdade, por David Copperfield:


Comentários

  1. O nome Stanley Pons imediatamente me trouxe à mente Solar Pons, nem sei por quê.

    Pensando bem, declarações bombásticas e confusas a ponto de parecerem propositadamente confusas, evocam a literatura do "talentoso" August Derleth.

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  2. Solar Pons é uma das boas coisas que o Derleth fez, na minha opinião. Sempre quis ler o romance de SP escrito pelo Basil Copper, mas o livro esgotou tão depressa e o preço dos usados é tão exorbitante que tive de abrir mão.

    (Numa nota irônica, os "puristas" de Derleth reclama das revisões que o Copper fez nos contos originais de Pons. Quem com ferro fere...)

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  3. luiz Carlos de Alneida20 de junho de 2011 às 15:48

    O seticismo antes de ser uma lança contra a fraude deve ser fonte de tentar explicar o que está acontecendo pelo mundo em relação às energias anômolas produzidas e não condizentes com as teorias aceitas. A ciência evolui e as teorias mudam mais forçadas por novos experimentos que explicadas por eles

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