AAAS premia Elizabeth Loftus, pioneira da 'falsa memória'
Esta informação é quentinha: a psicóloga Elizabeth Loftus foi agraciada com o Prêmio Liberdade e Responsabilidade Científica da Associação Americana para o Progresso da Ciência (AAAS). Eu geralmente prefiro espaçar as postagens no blog ao longo do dia, mas o prêmio da Dra. Loftus é uma notícia boa demais para esperar.
Primeiro, um pouco de background: nas décadas de 80 e 90, os Estados Unidos viveram uma epidemia de "recuperação de memória" de abusos sofridos na infância, com pacientes de psicólogos e de psicoterapeutas subitamente recordando terem sido vítimas de violência -- geralmente, sexual -- por parte de pais, professores ou outros adultos.
Inúmeros processos judiciais foram abertos, e famílias se viram destruídas pelas "lembranças" ressurgidas. O que Elizabeth Loftus fez foi demonstrar que era perfeitamente possível que as memórias fossem falsas e estivessem sendo criadas e implantadas na mente dos pacientes pelos próprios terapeutas.
Primeiro, um pouco de background: nas décadas de 80 e 90, os Estados Unidos viveram uma epidemia de "recuperação de memória" de abusos sofridos na infância, com pacientes de psicólogos e de psicoterapeutas subitamente recordando terem sido vítimas de violência -- geralmente, sexual -- por parte de pais, professores ou outros adultos.
Inúmeros processos judiciais foram abertos, e famílias se viram destruídas pelas "lembranças" ressurgidas. O que Elizabeth Loftus fez foi demonstrar que era perfeitamente possível que as memórias fossem falsas e estivessem sendo criadas e implantadas na mente dos pacientes pelos próprios terapeutas.
(Nota: é curioso como a hipótese dos implantes de memória soa, à primeira vista, muito mais chocante que a de que lembranças traumáticas podem ser "reprimidas para o inconsciente"; mas, de fato, há prova científica de que os implantes podem ser feitos, enquanto que toda a teoria da repressão não passa de mitologia freudiana, sem nenhum apoio empírico.)
O trabalho clássico de Loftus nessa área foi um experimento chamado "perdido no shopping". Resumindamente: voluntários receberam pequenos relatos sobre suas infâncias, escritos por pais ou outros parentes, nos quais havia sido inserido um episódio falso: o dia em que o voluntário se perdeu num shopping center. A missão dos voluntários era elaborar um pouco mais cada episódio dos relatos, acrescentando suas lembranças pessoais à do pai ou parente.
Resultado: 25% dos voluntários descreveu com detalhes como haviam se perdido no shopping. Experimentos posteriores foram capazes de elevar o índice de confabulação de memória falsa a fantásticos 50%.
A prova de que memórias falsas podem ser implantadas causou uma pequena revolução no sistema judiciário dos Estados Unidos, diz a nota da AAAS, evitando a condenação de um sem-número de inocentes.
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