And so it ends...
O ônibus espacial Discovery decola em sua última missão. Já tratei do fiasco geral que foi o programa de ônibus espaciais da Nasa em outra postagem, então aqui deixo apenas uma questão: por que a humanidade tem uma relação tão ambígua com os voos espaciais tripulados?
Por um lado, as principais lideranças mundiais não parecem realmente ser capazes de levar a empreitada a sério. Por outro, também não parecem dispostas a simplesmente tirar a coisa da tomada de vez.
Isso me lembra um dos paradoxos de Mr. Pond, um dos vários detetives-filósofos criados por G.K. Chesterton: "Uma coisa que vale a pena fazer merece ser malfeita". É o paradoxo que define a exploração do espaço.
A questão é tão velha quanto a NASA.
ResponderExcluirVinte anos atrás ainda se argumentava que certas atividades --- como exploração de planetas, conserto de satélites, operação de laboratórios, ou desenvolvimento de processos tecnológicos --- necessitavam a presença humana. Hoje sabe-se que isso não é verdade: tirando poucas situações muito especiais, robôs fazem todas essas coisas muito melhor que humanos, em todos os sentidos. Por exemplo, reparos a satélites por humanos somente são viáveis em órbitas baixas e com a inclinação certa, e para satélites de altíssimo valor (até agora, que eu saiba, apenas um -- o telescópio Hubble). Na órbita geoestacionária, onde estão quase todos os satélites de comunicações e monitoramento climático, é mais barato mandar um novo satélite do que uma missão tripulada para reparar um satélite velho. (Que eu saiba, não há hoje nenhum veículo tripulado que possa fazer tal missão.) Quanto a exploração planetária, veículos-robô como a sonda Opportunity fazem missões que nenhum humano poderá fazer nos próximos 50 anos, ou talvez nunca.
O único argumento que resta hoje para defender o programa espacial tripulado é político: a NASA acredita que só missões tripuladas conseguem despertar no cidadão comum o interesse necessãrio para justificar seu orçamento. Essa hipótese de marketing também pode não ser mais válida hoje. A Estação Espacial Interancional é um lugar muito mais chato do que os aficionados imaginavam; e lançamentos de vôos tripulados não despertam mais o mesmo interesse que despertavam vinte anos atrás.