E a ISS ficou pronta... sem o Brasil

Com a abertura, nesta semana, do módulo europeu Leonardo, a construção da Estação Espacial Internacional (ISS) está, finalmente e após 12 longos anos, completa. As próximas duas -- últimas -- missões de ônibus espaciais previstas levarão instrumentos científicos e peças de reposição à ISS, mas o Leonardo é a última adição de espaço habitável a ser feita ao posto orbital.

Uma vez completada a montagem, a estação deve ter uma vida útil, em sua configuração plena, de dez anos. O presidente dos EUA, Barack Obama, abandonou a diretriz de derrubar a ISS em 2015 -- como previsto pelo governo Bush -- e optou por mantê-la operacional até 2020.

Se isso por um lado parece ser uma boa ideia (não há muito sentido passar 12 anos construindo algo que só vai ser usado plenamente por cinco), por outro amarra recursos que poderiam estar sendo usados para levar astronautas a  Marte. É por essas e outras que muita gente (eu inclusive) se refere à órbita da Terra como um "atoleiro": gastam-se bilhões de dólares para chegar lá, e depois não se tem meios para ir além.

Mas o objetivo principal desta postagem é relembrar o fiasco tremendo que foi a "participação brasileira" na ISS -- projeto no qual entramos nos anos 90 com pompa e circunstância, e do qual fomos diplomaticamente chutados por, em linhas gerais, termos dado uma de moleque irresponsável, prometendo mais do que podíamos entregar, pedindo para renegociar e, depois, não entregando nem o mínimo que havia sido renegociado. Se houvesse um Procon internacional, a Nasa teria motivos de sobra para pôr o Brasil no pau.

(E esse foi, diga-se, um papelão bipartidário, que teve início no governo FHC e atingiu o auge no de Lula -- quando, num obsceno desperdício de recursos humanos e financeiros, Marcos Pontes, um astronauta treinado profissionalmente, foi enviado à ISS num voo idêntico, em termos de transporte e duração, ao dos turistas espaciais.)

A questão nem é discutir se participar da ISS servia ou não aos interesses da ciência brasileira e do desenvolvimento tecnológico nacional -- talvez não servisse, mesmo -- mas sim o fato de que o compromisso foi firmado e, depois, abandonado. O pior é que o investimento previsto nem era tão alto assim: US$ 120 milhões, ou cerca de R$ 200 milhões, em dinheiro de hoje. Para se ter uma ideia, o Senado Federal gasta, com folha de pagamento, R$ 2,5 bilhões ao ano, ou cerca de 21 vezes o que deveríamos ter investido na ISS ao longo de uma década.

Olhando isso tudo pelo retrovisor, tenho arrepios de pensar na Copa e na Olimpíada. O COI e a Fifa deviam ter consultado a Nasa...

Comentários

  1. É o lado Propaganda de um projeto espacial. É só olhar como e pq o programa Apolo foi largado na 17a missão de 20 originais... o Brasil não fez diferente: pôs um brazuca em órbita em comemoração dos 100 anos do primeiro vôo do 14-Bis. Uma vez feito, ponto.

    Repare que isto nem foi lembrado em qquer campanha de tv do governo em nenhum momento. Aliás, qualquer conquista científica/tecnológica não mesurável, como plataformas de petróleo, é solenemente ignorada.

    Idem para as perdas, perceba: a coleção de insetos do Butantã foi-se, e nego nem ai.

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  2. Mas nem como propaganda se fazem as coisas direito, né? O Apollo, mesmo tendo sido abortado antes de cumprir seu ciclo, teve um impacto na educação e na ciência dos EUA que ainda é sentido. Já no "nosso" programa espacial...

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  3. Aquele que a gente só aprendeu que tinha quando explodiu? Pois.

    O Marcos Pontes, pelo visto, continua fazendo o que pode...

    http://www.marcospontes.com/

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  4. Ah, e quanto à vida útil, eu lembro dum desses documentários que contava que a vida útil dum submarino nuclear é de 15 anos, os cinco primeiros detectando e corrigindo bugs do sistema, os cinco próximos em atividade e os últimos cinco no banco de reserva, ou algo parecido (realmente não lembro do último terço, mas era algo por aí), por já estarem desatualizados. A Mir durou mais por necessidade do que qualquer outra coisa, e há quem diga que era só trocar o módulo de habitação Spektra - cujo financiamento estrangeiro permitiu que os russos construíssem um pra ISS - que a Mir continuaria por mais um bom tempo.

    É a fornecedorcracia, não adianta. :) Até meio que falei sobre isso ainda agora: sabe quando td mundo fala mal da 'tecnologia ultrapassada' do shuttle? Pô, as Soyuz tão aí há bem mais tempo que o shuttle, eram as concorrentes das Apolo. Mas funcionam redondinho. O fusca da era espacial: feio, pequeno, econômico, prático, simples e valente. Pq não pode ser assim, do lado americano? Pq tudo tem que ser na base dos quackilhões de dólares?

    Enfim...

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