Nos desastres naturais, a corrupção mata
A edição desta semana da revista Nature traz um comentário escrito por dois pesquisadores, Nicholas Ambraseys e Roger Bilham, que encontraram uma correlação entre o número de mortos em terremotos e a taxa de corrupção nos países atingidos, tal como medida pelo Índice de Percepção da Corrupção, ou CPI, da Transparência Internacional.
Os autores estimam que 83% das mortes causadas por desabamentos de prédios durante terremotos dos últimos 30 anos ocorreram em países mais corruptos do que seria de se esperar pela renda per capita nacional. Uma das conclusões do trabalho é que "quando a corrupção é extrema, seus efeitos se manifestam da indústria da construção civil".
O trabalho de Ambraseys e Bilham tratou de terremotos, não de enchentes. Mas o fato de que a questão do respeito (ou não) das leis e regras de construção é um fator importante nos dois tipos de desastre, da terra ou da água, sugere caminhos para uma adaptação rápida e ligeira da técnica. Que poderia produzir um esboço mais ou menos assim:
O Rio de Janeiro teve quase 300 mortes causadas pela chuva. O Rio de Janeiro fica on Brasil, onde o CPI é 3,7 (quanto menor o número, mais corrupto o país).
Já Brisbane, na Austrália, que enfrentou nesta semana a pior enchente desde de 1974 (no caso do Rio, desastre semelhante já havia acontecido no ano passado), teve 12 mortes confirmadas (até ontem, havia também nove pessoas desaparecidas). O CPI da Austrália é de 8,7. Cinco pontos de CPI a mais, e quase 200 mortos a menos.
Claro, é perfeitamente possível que estejamos comparando laranjas com abacaxis por aqui. Convém usar dados proporcionais, para reduzir ao máximo as distorções.
A população de Brisbane é de 2 milhões de pessoas. Já as cidades de Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, na região serrana do Rio, somam 661 mil moradores. As mortes na cidade australiana, mesmo se considerarmos como mortos os nove desaparecidos, representam 0,001% da população. Nas três cidades do Estado do Rio, a porporção é de 0,04%, ou 40 vezes maior.
E quanto à renda? A Austrália é um país desenvolvido, com renda nacional bruta per capita de US$ 19.213,50. Já no Brasil, a renda per capita é de US$ 2.842,36 (números tirados daqui). Por esse indicador, a Austrália é sete vezes mais rica que o Brasil. A nossa enchente deixa 40 vezes mais mortos. E a corrupção aqui é mais que o dobro da de lá.
Uma comparação direta entre apenas dois países não prova nada, é fato. Mas seria interessante ver mais análises levando em conta o CPI quando ocorrem desastres ditos "naturais", ao menos para tentar isolar o que há de realmente "natural" nisso tudo.
Os autores estimam que 83% das mortes causadas por desabamentos de prédios durante terremotos dos últimos 30 anos ocorreram em países mais corruptos do que seria de se esperar pela renda per capita nacional. Uma das conclusões do trabalho é que "quando a corrupção é extrema, seus efeitos se manifestam da indústria da construção civil".
O trabalho de Ambraseys e Bilham tratou de terremotos, não de enchentes. Mas o fato de que a questão do respeito (ou não) das leis e regras de construção é um fator importante nos dois tipos de desastre, da terra ou da água, sugere caminhos para uma adaptação rápida e ligeira da técnica. Que poderia produzir um esboço mais ou menos assim:
O Rio de Janeiro teve quase 300 mortes causadas pela chuva. O Rio de Janeiro fica on Brasil, onde o CPI é 3,7 (quanto menor o número, mais corrupto o país).
Já Brisbane, na Austrália, que enfrentou nesta semana a pior enchente desde de 1974 (no caso do Rio, desastre semelhante já havia acontecido no ano passado), teve 12 mortes confirmadas (até ontem, havia também nove pessoas desaparecidas). O CPI da Austrália é de 8,7. Cinco pontos de CPI a mais, e quase 200 mortos a menos.
Claro, é perfeitamente possível que estejamos comparando laranjas com abacaxis por aqui. Convém usar dados proporcionais, para reduzir ao máximo as distorções.
A população de Brisbane é de 2 milhões de pessoas. Já as cidades de Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, na região serrana do Rio, somam 661 mil moradores. As mortes na cidade australiana, mesmo se considerarmos como mortos os nove desaparecidos, representam 0,001% da população. Nas três cidades do Estado do Rio, a porporção é de 0,04%, ou 40 vezes maior.
E quanto à renda? A Austrália é um país desenvolvido, com renda nacional bruta per capita de US$ 19.213,50. Já no Brasil, a renda per capita é de US$ 2.842,36 (números tirados daqui). Por esse indicador, a Austrália é sete vezes mais rica que o Brasil. A nossa enchente deixa 40 vezes mais mortos. E a corrupção aqui é mais que o dobro da de lá.
Uma comparação direta entre apenas dois países não prova nada, é fato. Mas seria interessante ver mais análises levando em conta o CPI quando ocorrem desastres ditos "naturais", ao menos para tentar isolar o que há de realmente "natural" nisso tudo.
Orsi,
ResponderExcluirExcelente hipótese, ao estilo freakonomics (Steven Levitt & Stephen J Dubner. Na minha opinião, a lógica subjacente é totalmente válida: Ocupação urbana desorndenada, principalmente em áreas de preservação permanente certamente significa vista grossa de autoridades que, no Brasil, não o fariam de graça. E o pior é que os malandros que permitiram tais construções nem se dão conta de sua responsabilidade nesta tragédia.